Hermético?

Hermético: adj. 1. Inteiramente fechado, de sorte que o ar não possa entrar. 2. De compreensão muito difícil.

Quão difícil será invadir-me o Ar a abertura piriforme? E quem disse que o quero percorrendo o epitélio mucoso que reveste as minhas vias respiratórias? Talvez sua ausência me leve ao ébrio estado de lucidez tão desejado por aqueles de pulmões obliquamente vulneráveis. Creia! Do Ar anseio apenas a força para gritar. Desejo a necessidade orgânica de contrair meu diafragma e distender as minhas valéculas epiglóticas, contrair as minhas cordas vocais e relaxar o meu centro tendíneo em ritmos espásticos para sentir propulsões nos hiatos esofágico e aórtico. Apenas desejo o grito!
E de que me valeria sobrecarregar de forma absurda minha medula oblonga e meu nervo frênico se o quadríceps da coxa e flexor longo do hálux não acompanham tanta necessidade de aminas endógenas? Por que exigir tanto dos meus sarcômeros se a glicogenólise e a vasoldilatação simpática não serão satisfatórias?
Por isso opto pela Hipoxia. Uma acidose metabólica não faz tão mal assim. Em certos instantes é até preferível. É o suficiente para aturdir um pouco a hemodinâmica das minhas hemácias. E a escolho pois neste meu estado letárgico não me é necessário lembrar que onírica é a segurança fora da camada córnea que reveste meu corpo. Escolho com avidez na vaga esperança de que a ausência do Ar me faça perder a indispensável prudência, a qual prefiro ignorar quando utilizo exaustivamente as minhas áreas de Broca e Wernick e esqueço que devo abusar do meu Órgão de Corti e fingir não possuir músculo hipoglosso.
Apenas a Hipoxia! - na ânsia de que ela me seja amiga e imobilize meu Circuito de Papez, que parece ter sido fadado à incoerência e à tolice, ao ponto de me propiciar liberação de serotonina quando escrevo textos prolixos ou dedico horas a fio estudando os processos neurofisiológicos que tentam explicar por quê ser humano é tão hermeticamente divino.

- Loucura de um estudante de Medicina -

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Contumácia Degenerescente

Em tua ausência infinda acorrentado eu vivo!
Exauriste-me, incólume, a paz e o sono.
Como posso querer este amor putativo?
Lôbrega vontade sobre a qual me questiono.

Comigo estarás até o último suspiro!
- Certeza anacrônica com que eu me iludo -
No abúlico intento de livrar-me de tudo
Esqueço que sem ti eu sequer bem respiro.

Apesar de saber: Nosso sonho é obsceno,
De ser a tua boca na minha um veneno,
O teu calor necessito sem culpa ou pejo;

Permite o passado que a saudade eu suporte!
Mesmo sendo o teu corpo um caminho de morte
És o onírico mal que, afaimado, eu desejo.

Rafael Casal
20 de Novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Como Matar Um Amor

Psicótico, arranque dos olhos a venda
E aceite a certeza de que nada é eterno!
Neste instante, então, abléptico compreenda
Que em demasia amar é a senda para o inferno.

Derrogue a saudade com demente prazer
- Felizes lembranças são ardis inimigos -
Se estólido pensares: -Não posso esquecer!
Impertérrito grite: -Eu preciso e consigo.

Fingir? - Não se abstenha quando exequível for
E o fim viverás deste maníaco amor
Mesmo antes do que tenha você esperado;

O conselho siga do que insigne te escreve:
Dilascere os medos e acredite que - em breve! -
Tudo apenas será um amorfo passado...

Rafael Casal
17 de Novembro de 2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Hemóstase

Em processo de cura ainda me apresento
Entretanto, por ti, eu não mais vou chorar.
Se incruento foi para você o findar
Confesso: agressivo me foi o sangramento.

Psicose hematófaga não mais me detém!
De você recolhi auto-amor visceral
Sim! Fostes para o meu corpo um séptico bem
E ao meu espírito? - Um inequívoco mal.

Coágulos extirparei! - Sei que consigo
Toda Paz e Silêncio eu tomo como abrigo
Ao meu hígido estado, o cuidado se soma!

Amei! E após sofrer infecta cirurgia
Eu estanquei a equimose que me afligia
E enfim me resta nada mais que um hematoma.

Rafael Casal
13 de Novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Eructação Mefítica

Finito foi todo sentimento agressor!
Com tua insípida ausência, agora, eu convivo.
Da vida ilidindo o que não posso supor
- Sem querer - degluti nosso fim vomitivo.

Neste ato nutriz, autofágico me afeta
O imo refluxo do teu beijo nauseante.
Tenho ácidos lábios e uma dor inquieta
Por rejeitar, adverso, o que o nojo suplante.

Cuspo o Tudo que hoje não me é quase Nada!
E apesar das cólicas por mim desejadas
Nosso ulceroso sentir ainda me espanta;

Ruminar devo o que deste sonho me resta:
Na língua o sabor de tua boca indigesta
E um dispéptico amor fixado na garganta.

Rafael Casal
11 de Novembro de 2008

domingo, 9 de novembro de 2008

Metástase

Ferido estou além do que havia esperado!
E o nosso incauto amor ainda me atormenta
Tenho, hoje, deste sonho como resultado
O corpo enfadado e a alma purulenta.

Neoplásico é o fim que - inopino - me alcança
Maligno findar do nosso imane tumor
Amor-displasia ao qual, ousando me opor,
Eu nutro, inerme, de vurmosa auto-matança.

E apesar de você não mais ter noite e dia
- De volta ao cárcere onde outrora me escondia -
Tua ubíqua lembrança ainda me alucina;

Tal sarcoma faz que o sofrer se protele!
Do teu corpo o calor persite em minha pele
E o teu cheiro impregnado levo nas narinas.

Rafael Casal
07 de Novembro de 2008

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Apoplexia

Eu não te esqueço! Não importa o quanto tente
E no fim desta história eu, infenso, acredito
Vivo então o vaticínio, em suma, predito:
Tenho - sem teu calor - o espírito doente.

Conviver não sei com este amor inextinto
Como seguir, se respiro a tua presença?
Sempiterno será o que por você sinto
- Mesmo que a tua pele não mais me pertença.

Agora, a cuidar da ferida eu me convido!
E cônscio estou de que meu erro descabido
Foi ter feito deste austero amor o meu tudo;

Apesar de saber que sem ti sobrevivo
Com teu corpo ausente em nosso sonho sativo
Simplesmente me encontro cego, surdo e mudo...

Rafael Casal
06 de Novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Hipóstase Viciosa

Sofrer suporto! E de sonhar até me esqueço
Contudo súplice existir nunca eu aceito.
Por mais que ganhar seja, da perda, o começo
Encafuar-me, abnóxio? - Não tenho o direito!

Máximo desejo é bem viver todo instante,
Mas introjetar uma certeza eu preciso:
Atrelados - Sempre! - a imaculados sorrisos
Encontram-se, ostensivos, choros ululantes.

- Fugir! - Tudo a este impérvio fim me incentiva,
E desta justaposição adversativa
Capitosos sentidos sequer, hoje, eu invento.

Sentir? - Deixarei, quando, o que me consumia
Nada além for de uma aziaga dicotomia:
- Entender que, do amor, a alma é o sofrimento.

Rafael Casal
05 de Novembro de 2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Hemoptise

Faltou-nos - em tudo! - uma lógica simplista
E a capacidade de aproveitar o pouco
Só agora entendo, sangrando e quase louco:
Eterno é o sentir de quem, deveras, conquista.

Ainda sofro! E incipiente experimento
As consequências do nosso amor danifício
Hoje, deste estulto e ilibado sentimento
Tenho nas entranhas apenas o resquício.

Na alma guardo uma alegria sanguinolenta
- Esquecer é o presente de quem, adicto, tenta! -
Fim! Foi tudo somente um sonho singular.

Certo de que razões de dor cinéreas são
Aceito, escanso, uma hemorrágica ilação:
Doentilmente gosto, de você, gostar.

Rafael Casal
01 de Novembro de 2008