Hermético?

Hermético: adj. 1. Inteiramente fechado, de sorte que o ar não possa entrar. 2. De compreensão muito difícil.

Quão difícil será invadir-me o Ar a abertura piriforme? E quem disse que o quero percorrendo o epitélio mucoso que reveste as minhas vias respiratórias? Talvez sua ausência me leve ao ébrio estado de lucidez tão desejado por aqueles de pulmões obliquamente vulneráveis. Creia! Do Ar anseio apenas a força para gritar. Desejo a necessidade orgânica de contrair meu diafragma e distender as minhas valéculas epiglóticas, contrair as minhas cordas vocais e relaxar o meu centro tendíneo em ritmos espásticos para sentir propulsões nos hiatos esofágico e aórtico. Apenas desejo o grito!
E de que me valeria sobrecarregar de forma absurda minha medula oblonga e meu nervo frênico se o quadríceps da coxa e flexor longo do hálux não acompanham tanta necessidade de aminas endógenas? Por que exigir tanto dos meus sarcômeros se a glicogenólise e a vasoldilatação simpática não serão satisfatórias?
Por isso opto pela Hipoxia. Uma acidose metabólica não faz tão mal assim. Em certos instantes é até preferível. É o suficiente para aturdir um pouco a hemodinâmica das minhas hemácias. E a escolho pois neste meu estado letárgico não me é necessário lembrar que onírica é a segurança fora da camada córnea que reveste meu corpo. Escolho com avidez na vaga esperança de que a ausência do Ar me faça perder a indispensável prudência, a qual prefiro ignorar quando utilizo exaustivamente as minhas áreas de Broca e Wernick e esqueço que devo abusar do meu Órgão de Corti e fingir não possuir músculo hipoglosso.
Apenas a Hipoxia! - na ânsia de que ela me seja amiga e imobilize meu Circuito de Papez, que parece ter sido fadado à incoerência e à tolice, ao ponto de me propiciar liberação de serotonina quando escrevo textos prolixos ou dedico horas a fio estudando os processos neurofisiológicos que tentam explicar por quê ser humano é tão hermeticamente divino.

- Loucura de um estudante de Medicina -

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Soneto Estóico

Bem viver cada dia é o que, álacre, procuro
- Verdosos sorrisos como chegam se vão -
Esperança é manter, ante insólito escuro,
Perpétuo, no espírito, o calor do verão!

Bucólica existência - sativo - eu invento
Longo é o caminho! Mas sequer tenho pressa
São, de vida outoniça, os frutos suculentos
Em diáfanos bosques o que me interessa.

Livre, entrego-me às flores perdidas de outrora
- Dos espinhos a dor já não mais se demora! -
Busco a chuva abnóxia que agônica me era;

Mesmo efêmero o Sol, nunca ao frio me prosterno
E apesar de saber que regressa o inverno
Desfruto, audaz, do retorno da primavera!

Rafael Casal
26 de Janeiro de 2009

sábado, 24 de janeiro de 2009

Phoenix

Incoativo desejo de nada me aviva!
E inexistente é o fardo que eu não suporte.
Tanto sou desta vida a loucura efetiva
Quanto a anfibológica blandície da morte.

Crescer é o destino! - Forte sou face ao frio
Às manhãs, nova alma - invasiva! - me alcança.
Identidade lauta, em segundos, recrio
Se necessária me for ignota mudança.

E que venham as noites! - Do escuro eu não fujo
Pouco importa o trajeto, seja limpo ou sujo
- Todo lapso de dor ao amor me encaminha! -

Ser feliz é uma arte; senti-la? - um perigo
Mas sonhar, diariamente, eu sei que consigo
E, estrênuo, renasço das ígneas cinzas minhas...

Rafael Casal
24 de Janeiro de 2009

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Doesto Emproado

Aos dantescos caminhos nunca ouso me opor!
- São meus olhos fantasia e os pés todo amor. -
De uma idéia eu renasço e construo meu mundo
E na massa homogênea, assim, não me confundo.

Vontades herméticas revestem meu ser
Por chorar e sofrer de sonhar não me isento!
Para em álgida comodidade viver
Não abdiquei, acintoso, dos meus sentimentos.

Ao infinito me entrego sem culpa ou receio,
Pelas lentes da poesia a vida eu leio,
E o espírito derramo neste alvo papel;

Minha essência revelo e, como homem, termino:
Sou eu - por sorrisos - sequioso menino
- Lídimo poeta chamado Rafael.

Rafael Casal
21 de Janeiro de 2009


P.S.: Este poema foi inspirado no depoimento que minha amiga Sofia escreveu para mim no orkut. Adooooooro Sofia!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Concupiscência Divina

Por completo, livro-me dos medos austeros!
Libidinoso sonho contigo, então, vivo
À nossa luxúria entregue, impudico, eu quero
Em meu corpo o sabor do teu beijo lascivo.

De toda culpa e pudor profuso eu me isento
Não me interessa quem - Louco! - o sexo abomina!
Devasso, anseio este lúbrico sentimento
E os pecados de nossa orgia libertina.

Vivamos o vício do orgânico prazer!
Necessito, em meus braços, promíscuo te ter
- A opulente arte de amar conheço de cor; -

Quando língua e boca já íntimos me são,
Concedo-nos gozos de orgásmica paixão
E apenas desejo o cheiro, a pele e o suor.

Rafael Casal
08 de Janeiro de 2009

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Fome de Vazio

Altivo, eu desprezo exacerbados desejos
Quando preso à excessos famintos me vejo!
De uma paz necessito que me desenfade
E a inapetência anseio da simplicidade.

O exagero? - Acredite! - Não mais me interessa
Hoje ao Pouco eu me lanço com sôfrega pressa!
Permitindo este sonho que equânime eu viva
Empacha-me, assim, de uma ausência lenitiva.

Do amor excedente faço em mim supressão!
Mais que suficientes as Partes me são
Mesmo que ao Todo esteja minh'alma fadada;

Repouso em fragmentos de um silêncio severo
E neste mítigo vazio apenas espero
Ávido viver a plenitude do nada...

Rafael Casal
01 de Janeiro de 2009