Hermético?

Hermético: adj. 1. Inteiramente fechado, de sorte que o ar não possa entrar. 2. De compreensão muito difícil.

Quão difícil será invadir-me o Ar a abertura piriforme? E quem disse que o quero percorrendo o epitélio mucoso que reveste as minhas vias respiratórias? Talvez sua ausência me leve ao ébrio estado de lucidez tão desejado por aqueles de pulmões obliquamente vulneráveis. Creia! Do Ar anseio apenas a força para gritar. Desejo a necessidade orgânica de contrair meu diafragma e distender as minhas valéculas epiglóticas, contrair as minhas cordas vocais e relaxar o meu centro tendíneo em ritmos espásticos para sentir propulsões nos hiatos esofágico e aórtico. Apenas desejo o grito!
E de que me valeria sobrecarregar de forma absurda minha medula oblonga e meu nervo frênico se o quadríceps da coxa e flexor longo do hálux não acompanham tanta necessidade de aminas endógenas? Por que exigir tanto dos meus sarcômeros se a glicogenólise e a vasoldilatação simpática não serão satisfatórias?
Por isso opto pela Hipoxia. Uma acidose metabólica não faz tão mal assim. Em certos instantes é até preferível. É o suficiente para aturdir um pouco a hemodinâmica das minhas hemácias. E a escolho pois neste meu estado letárgico não me é necessário lembrar que onírica é a segurança fora da camada córnea que reveste meu corpo. Escolho com avidez na vaga esperança de que a ausência do Ar me faça perder a indispensável prudência, a qual prefiro ignorar quando utilizo exaustivamente as minhas áreas de Broca e Wernick e esqueço que devo abusar do meu Órgão de Corti e fingir não possuir músculo hipoglosso.
Apenas a Hipoxia! - na ânsia de que ela me seja amiga e imobilize meu Circuito de Papez, que parece ter sido fadado à incoerência e à tolice, ao ponto de me propiciar liberação de serotonina quando escrevo textos prolixos ou dedico horas a fio estudando os processos neurofisiológicos que tentam explicar por quê ser humano é tão hermeticamente divino.

- Loucura de um estudante de Medicina -

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Caixa de Música

Dança ao som da saudade! Oh, meiga Bailarina
- Transitória frequência é o que os teus pés domina -
Protege em segredo a minha voz inaudita,
Quanto as jóias silentes? - Apenas reflita.

Dança sempre o meu canto! - Afônico eu te imploro
Sente, à pele, o sinal: Ele não é sonoro!
Como a ti são os gritos que a paz escondia
Pode ser o silêncio também melodia.

Viva os timbres suaves que a dor arrebata,
No ritmo hipnótico desta muda sonata
Permanece - em surdina - guardada e esperança!

Áfona sinfonia ao teu corpo eu orquestro
Siga o tom da canção! - Ele é o nosso maestro
E se adverso é o fim: Aquieta-te e dança...

Rafael Casal
17 de Fevereiro de 2009

3 comentários:

Crimson Moon disse...

uma valsa ocular..
definitivamente, dancei com os olhos.
num dia triste...nada como oscilar num ABSOLUTO mar de poesia.
eiueheheiue

Reilan dos Reis disse...

Cara, eu gostei bastante dessa 4 -4- 3- 3, bem Original! :D

Essa foi a melhor poesia! Continue assim!

Unknown disse...

Nossa que lindo! Não conheço muito de poemas, uma opnião totalmente leiga mas achei muito lindo! Continue escrevendo!